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Clube de Uganda oferece microempréstimos

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Depois que algumas mulheres empreendedoras no extremo noroeste da Uganda tiraram suas famílias da pobreza usando microempréstimos, elas rapidamente se mobilizaram para ajudar outras pessoas. O primeiro passo? Elas formaram um Rotary Club. 

O Rotary Club de Yumbe foi fundado em abril. Mas mesmo antes disso, enquanto o clube tinha status provisório, suas associadas trabalhavam duro. Yumbe, uma cidade de cerca de 50.000 habitantes com uma rua principal movimentada, repleta de oficinas, bancas de comida e mercados, está localizada entre um dos afluentes do Nilo e as divisas com a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul. A região rural vizinha enfrenta vários desafios, como incidência de malária e água imprópria para o consumo humano. Somando-se às tensões, o assentamento de refugiados Bidi, nas proximidades, abriga quase 250 mil pessoas – a maioria mulheres e crianças – que fugiram da guerra civil no Sudão do Sul. E a renda familiar na região chega a pouco mais de um dólar por dia. 

O clube, que tem 24 associadas, pediu propostas para seu primeiro projeto comunitário pela rádio local e decidiu ajudar Achiba, uma aldeia próxima, com cerca de 600 pessoas e casas feitas de barro e telhados de palha, rodeadas por hortas. Desde 2021, as associadas do clube têm realizado ambiciosos projetos no local, como piloto para seus planos de intervenções comunitárias. 

Rukia Driciru, a presidente fundadora do clube, que administra uma butique em Yumbe, diz que o objetivo do grupo é empoderar as mulheres e permitir que elas se beneficiem economicamente. Para tanto, as associadas estão tentando diminuir as dificuldades envolvidas no acesso a serviços-chave, inclusive à água potável, para reduzir as doenças transmitidas pela água, melhorar a higiene e o saneamento, e combater a malária.

Associadas do Rotary Club de Yumbe (a partir da esquerda): Emily Candiru, Rukia Driciru, Christine Oyajiru e Sumbua Zabibu em uma estação de lavagem das mãos que o clube instalou.

Fotografia: Esther Ruth Mbabazi

O clube é distinto de várias maneiras. Em primeiro lugar, ele é formado apenas por mulheres, incluindo algumas que até recentemente tinham dificuldades financeiras. Ele extrai seu quadro associativo de uma rede de mulheres pertencentes a associações de poupança e empréstimos. Os grupos geralmente incluem de 10 a 30 pessoas que reúnem suas economias e conseguem microcréditos para investir em empresas geradoras de renda. Os juros são reinvestidos na comunidade. As associações de poupança são apoiadas pelo TCP Global, um programa de fortes vínculos com o Peace Corps e as comunidades rotárias. O TCP Global fornece fundos para aumentar os pacotes de empréstimos. Em Yumbe, as mulheres usaram os empréstimos iniciais para estabilizar seus negócios e garantir que seus filhos tivessem o suficiente para comer e pudessem ir à escola. Como agora estão em condições de ajudar outras pessoas, é exatamente isso que elas estão fazendo. 

"O clube é formado por mulheres de todas as idades, provenientes das bases e, em sua maioria, com baixo poder aquisitivo", explica Driciru. "Temos agricultoras, gerentes de lojas de varejo e atacado, e costureiras. Como membros do grupo de poupança, queríamos contribuir com algo impactante para nossa comunidade, e a melhor maneira de fazer isso é por meio do Rotary." 

Em um projeto recente, o clube comprou e distribuiu sistemas que transformam baldes de 19 litros em filtros d’água para residências em Achiba. "As mulheres ficaram tão entusiasmadas quando beberam água desses recipientes pela primeira vez. Para elas, foi um sonho realizado", diz Driciru.

O caminho da prosperidade 

O Rotary Club de Yumbe, Uganda, tem algumas sugestões para quem pensa em utilizar o microfinanciamento e outras iniciativas para apoiar clubes em áreas sem acesso a serviços básicos: 

  • Incentive os Rotary Clubs a criar associações de poupança e empréstimos para reunir as economias da comunidade e oferecer microcréditos. As associações de microempréstimos devem ser focadas em negócios. 
  • Promova a ideia de cada membro do grupo de empréstimo economizar. 
  • Assegure a manutenção de registros adequados para monitorar as contribuições dos membros. 
  • Sugira que cada membro mantenha um registro das suas contribuições para o grupo de poupança.
  • Apoie projetos com os juros coletados dos empréstimos. 
  • Incentive os Rotary Clubs interessados em estabelecer associações de poupança e empréstimo a abrir contas bancárias como forma de proteger as economias dos associados. 
  • Envolva a comunidade para ajudar nos projetos do Rotary, a fim de garantir sua sustentabilidade. Isso gera um senso de propriedade por parte dos moradores. 
  • Forme um Núcleo Rotary de Desenvolvimento Comunitário para trabalhar com Rotary Clubs. O grupo pode envolver um segmento mais amplo da comunidade e ajudar a guiar os projetos.

Após uma demonstração, 28 mulheres foram treinadas para instalar os baldes e mantê-los limpos. "Com os recipientes, as mulheres podem tratar a água em vez de fervê-la, matando mais de 99,9% dos germes", conta Driciru. 

As cotas anuais das associadas, que financiam as atividades do clube, são coletadas a partir dos juros dos empréstimos dos grupos de poupança. Para tornar o quadro associativo mais acessível, o Rotary Club de Topeka, Kansas, cobre as cotas do Rotary International para o clube de Yumbe, de acordo com Chris Roesel, do Rotary E-club WASH, Distrito 9980, um grupo focado em água, saneamento e higiene. Roesel ajudou na formação do clube de Yumbe, que também é patrocinado pelo Rotary Club de Arua, uma comunidade maior no norte da Uganda, cujos associados participam virtualmente das reuniões do clube de Yumbe.  

Por seus esforços em Achiba, o clube se uniu a duas organizações não governamentais, a P2P Inc., que trabalha na prevenção de doenças, e uma operação local chamada Care Community Education Centre, que empodera mulheres e crianças de áreas rurais. Através dessas parcerias, o trabalho em Achiba está dando frutos. A vila foi, durante muito tempo, servida por apenas uma fonte de água – um poço que não ficava em localização central, forçando algumas pessoas a caminhar mais de uma hora de ida e volta para buscar água. Cerca de 87% dos residentes relataram ter acesso à água de fontes desprotegidas, de acordo com uma pesquisa comunitária realizada em agosto de 2021, antes do clube de Yumbe iniciar seu trabalho. Com a ajuda do clube e de seus parceiros, um segundo poço foi disponibilizado, conectando o vilarejo inteiro a uma fonte de água segura.

O clube construiu mais de 40 latrinas e instalou estações simples para lavagem das mãos, feitas com um grande jarro e ativadas por um pedal. O acesso a água limpa e saneamento reduziu drasticamente os casos de doenças transmitidas pela água, como a diarreia. Em agosto de 2021, esse problema afetava cerca de metade das crianças menores de 5 anos; mas um ano depois, a incidência passou a ser de apenas 5%, de acordo com uma pesquisa comunitária. 

O clube fez testes de malária e administrou tratamento antipalúdico aos residentes do vilarejo, criando e recrutando a ajuda de um Núcleo Rotary de Desenvolvimento Comunitário (NRDC), um grupo de não rotarianos que apoia os projetos do Rotary Club. O líder da equipe do NRDC diz que o Escritório Distrital de Saúde treinou rotarianos e membros das equipes de saúde do vilarejo para realizar testes diagnósticos rápidos contra a malária. "Desde que recebemos medicamentos para o tratamento da doença, o número de pessoas encaminhadas ao hospital por causa da malária diminuiu de cerca de 24 para duas ou três por semana", diz Salila Pirio, uma funcionária da equipe de saúde.   

Com acesso a serviços básicos mais próximos da comunidade, Driciru diz que as mulheres podem se envolver em outras atividades remuneradas. "Nos próximos anos, queremos ver uma comunidade de mulheres economicamente empoderadas que sejam capazes de investir em negócios e comprar seus próprios terrenos", planeja. 

Artigo publicado na edição de novembro de 2022 da revista Rotary.